03 Jun 2017

Vamos apresentar um caso interessante de exame ecográfico na rotina diária, que mostra como é importante estarmos atentos aos detalhes da história clínica. Uma gestante de 40 anos, quarta gestação, a primeira gravidez com bons resultados, a segunda e a terceira gestações terminaram em aborto espontâneo. Não conseguia engravidar novamente, tentou reprodução assistida sem sucesso, desistiu de continuar as tentativas e agora se apresenta com uma gravidez espontânea de 7 semanas. Vem fazer um exame de rotina para verificar o estado da gestação.

 

         Lembrem da história, que diz respeito ao aborto de repetição. Quando temos uma situação assim, devemos prestar atenção aos elementos que a ecografia pode nos trazer, para tentar esclarecer a questão, sem pensar, é obvio, em problemas que só dizem respeito a exames laboratoriais, etc.

         Quando iniciamos o exame, identificamos uma gestação tópica, um embrião de sete semanas com frequência cardíaca normal e o anel vilositário adequado.          Até aqui tudo bem, agora lembramos as questões importantes que a ecografia pode acrescentar. Primeiro: examinar o corpo lúteo. Encontramos, no ovário esquerdo, o anel do corpo lúteo, mas um pouco fino e pouco visível. Não estou referindo ao interior da cavidade e sim ao anel tecaluteínico, que está pouco aparente. Utilizamos o Doppler para estudar o mapa vascular. Observem que o corpo lúteo tem um anel sem vasos. Esses vasos que nós estamos observando aqui em cima, estão relacionados com os ligamentos uterinos e não ao corpo lúteo. Portanto, já temos uma situação a comunicar ao clinico: corpo lúteo com anel fino pouco aparente e hipovascularizado, isso indica probabilidade de insuficiência lútea.

         Segundo ponto importante: examinar a artéria uterina, lembrando que são duas. Observem que a curva espectral da artéria uterina é vazia, a diástole atinge em alguns momentos a linha zero e a impedância está elevada, com índice de pulsatilidade acima de 3,0, nessa artéria está em 3,27. A artéria contralateral, não mostrada aqui, também apresentou uma impedância elevada com pulsatilidade acima de 3,00.

         As artérias uterinas dizem que deve estar ocorrendo algum problema na perfusão uterina, geralmente relacionado com fatores autoimunes, como síndrome anti-fosfolípedes ou trombofilia adquirida autoimune ou, eventualmente, os fatores trombofílicos por mutação genica, que também são frequentes hoje em dia na população.

         Observem que, em um estudo de rotina, direcionamos a atenção para os fatores que podem levar ao aborto de repetição. Se apenas realizarmos o exame básico para identificar a gestação intrauterina e verificar a viabilidade do embrião, nós não teríamos fornecido duas questões importantes ao clinico, que dizem respeito à produção de progesterona pelo corpo lúteo, e à perfusão arterial uterina, que, nesse caso em particular, falam que, provavelmente, essa mulher está perdendo gestações por fatores relacionados com a perfusão uterina e/ou com a função do corpo lúteo.

         Se você deseja conhecer um pouco mais sobre essas questões relacionadas com perda de gestação, acesse nosso site www.ultraeduc.com.br, onde temos aulas gravadas que dizem respeito, por um lado ao Doppler no primeiro trimestre da gestação, e, por outro lado, às questões do aborto. Também temos aulas sobre a ecografia morfológica do primeiro trimestre, onde vamos falar sobre os problemas relacionados com a perda gestacional precoce.