Vamos estudar mais um caso, para ilustrar a importância de trabalhar com os vários aplicativos da ultrassonografia e de utilizar a correlação clínico-ecográfica. Paciente nuligesta de 40 anos. Refere diagnóstico laboratorial de baixa reserva ovariana (hormônio anti-mulleriano abaixo do mínimo normal), bem como diagnóstico ecográfico de duplicação uterina.
Compareceu, na segunda fase do ciclo menstrual, para avaliar o tipo de duplicação uterina através da ultrassonografia 3D/4D. Vamos observar, de forma ampla, as condições do útero e dos ovários, e não apenas o útero duplo.
Os ovários são pequenos, com volumes abaixo de 3 cm³, e apresentam folículos grandes, apesar da fase lútea (reserva folicular ovariana baixa). O ovário esquerdo contém corpo lúteo com parede fina e mapa vascular escasso (mal desenvolvido). O endométrio apresenta padrão luteinizado, com espessura no limite mínimo (6 mm de espessura total). Finalmente, utilizamos o Doppler para aferir a perfusão das artérias uterinas, as quais revelaram índices elevados de pulsatilidade (acima de 3,0), indicando risco para trombofilia e/ou doença autoimune.
O corte transversal na metade superior do útero mostra dois endométrios (duplicação uterina). As hipóteses para a duplicação da metade superior do útero seriam: septo uterino parcial ou útero arqueado. As possibilidades de septo total ou de útero bicorne ficam descartadas, pois teriam duplicação completa. O plano coronal uterino foi obtido com o aplicativo 3D/4D, e revelou um septo parcial espesso. A avaliação volumétrica foi fundamental e definiu o tipo de alteração uterina, mostrando um endométrio duplicado na metade superior em formato da letra “V”. O útero arqueado apresentaria a letra “U” aberta (arco), e seria uma variante anatômica.
Vejam como é importante termos essa visão global. A solicitação clínica foi de avaliar o tipo de duplicação uterina através da ecografia tridimensional. O quadro clínico é de uma paciente nuligesta, com idade acima de 35 anos, desejando engravidar, com exame laboratorial indicando reserva ovariana baixa, e com diagnóstico ecográfico de duplicação uterina de tipo a esclarecer.
Vamos ampliar o diagnóstico: avaliem os dois ovários e as artérias uterinas. Não foi solicitado o Doppler, mas a nossa visão clinica leva a esse manejo mais amplo do caso. Finalmente, avaliem o tipo de duplicação uterina. Em vez de uma, foram quatro conclusões:
- Ovários pequenos e com grandes folículos recrutados, apesar da fase lútea (reserva folicular baixa).
- Corpo lúteo insuficiente no presente ciclo.
- Perfusão uterina diminuída (risco para trombofilia e/ou doença autoimune).
- Septo uterino parcial.
Além de classificar a duplicação uterina, agregamos informações importantes para o manejo clínico, principalmente a terceira conclusão (perfusão uterina diminuída). A avaliação laboratorial deverá ser ampliada, caso a opção clínica seja de ovodoação e transferência de embriões. Também temos a questão do septo uterino parcial (aumenta o risco para perda gestacional e de restrição do crescimento fetal).
Para saber mais sobre ecografia e também sobre essas questões que eu apresentei no presente caso clínico, acesse o nosso site www.ultraeduc.com.br onde temos vários cursos gravados na área de ultrassonografia.
Muito obrigado pela atenção. Prof. Dr. Luiz Antônio Bailão.