BANDA AMNIÓTICA
A sequência malformativa da banda amniótica, também denominada síndrome da banda amniótica ou displasia de Streeter, é uma anomalia congênita polimórfica esporádica não transmissível descrita por Streeter em 1930. Pode provocar perda gestacional, óbito (fetal ou neonatal) e malformações diversas em qualquer segmento corporal.
É uma anomalia precoce da embriogênese na fase de crescimento da vesícula amniótica (quinta e sexta semana) sem causa definida. O âmnio normal forma um saco protetor contendo o embrião e o cordão em seu interior). O âmnio anormal apresenta um crescimento desordenado devido à uma disrupção de causa desconhecida e forma lâminas (bandas) sem fechar o saco amniótico.
Desse modo, o embrião fica em contado com a face corial do âmnio e com as finas traves fibrosas do celoma extraembrionário e sofre aderências constritivas e disruptivas que provocarão um grande espectro de anormalidades, que ocorre em 1: 1.200 a até 1: 15.000 recém-nascidos vivos. Se levarmos em conta as perdas gestacionais a incidência será maior.
As anormalidades são extremamente variáveis, pois vai depender de qual parte do concepto sofreu adesões e encarceramentos e em qual estágio do desenvolvimento embrionário. As anomalias são assimétricas e não seguem as linhas de desenvolvimento embrionário. Podemos citar vários defeitos, mas sem esgotar as possibilidades, tais como:
- Cabeça: acrania/anencefalia assimétrica, encefalocele fora da linha média, fendas faciais variáveis e defeitos nasais e oculares.
- Tronco: toracosquise, abdominosquise, eventração, ectopia cardíaca, defeitos da coluna vertebral e defeitos perineais.
- Membros: diferentes níveis de amputação e/ou de constrição, edema linfático e/ou venoso, pé torto e defeitos dos dedos.
A combinação de defeito espinal severo com defeito da parede ventral firma o diagnóstico para banda amniótica. As amputações e as constrições de membros também indicam a banda amniótica. A síndrome da banda amniótica só pode ser diagnosticada se houver anomalias fetais típicas ou se houver anomalia com membrana aderida no local.
A Figura 1 apresenta várias bandas amnióticas aderidas ao feto. A Figura 2 apresenta feto com defeito grave de fechamento da parede ventral devido à banda amniótica. A Figura 3 mostra toracosquise devido à banda amniótica.
Atenção: a presença de membranas na cavidade amniótica não é suficiente para firmar o diagnóstico de banda amniótica, o qual só pode ser firmado com a presença de anomalias fetais com ou sem adesão de membranas, conforme referido acima.
A identificação de membrana na cavidade amniótica durante ultrassonografia no segundo trimestre, sem adesão ao feto e/ou anomalia estrutural típica, não oferece risco fetal. Não chame de banda, pois essa palavra ficou definida dentro do espectro da sequência malformativa ou síndrome da banda amniótica. Interrogar banda amniótica para o achado de membrana dentro da cavidade amniótica, sem alteração alguma da anatomia fetal, não é adequado, pois induz a gestante ao pânico durante todo o restante da gravidez até o nascimento. A imagem 4 mostra membranas livres na cavidade amniótica e não havia malformações fetais ou sinais de adesão ao feto. Não devem ser chamadas de bandas, mas sim de membranas sem relação com o feto (inócuas).
Recebo regularmente gestantes em pânico devido ao diagnóstico de membrana na cavidade amniótica, chamada inadequadamente de banda amniótica, mesmo que seja apenas uma interrogação.
Em muitos casos o achado é de uma sinequia ou sinéquia uterina (ambas as grafias são utilizadas, mas a palavra correta não tem acento agudo no e). A maioria dessas mulheres tem antecedente de aborto incompleto tratado com curetagem uterina.
A sinequia uterina focal é uma sequela do procedimento. Com o advento de uma nova gravidez ocorre um processo adaptativo interessante. O útero expande com o crescimento gestacional e a ação hormonal, e o foco de adesão entre as paredes uterinas cresce junto, tornando-se um cordão esticado e envolto pelo saco corioamniótico.
O exame ultrassonográfico identifica esse cordão esticado e aderido entre a parede anterior e a posterior do útero, parecendo uma fita intra-amniótica, que, na realidade, é extra gestacional. As imagens 5 e 6 mostram dois casos de sinequia, observando-se os cordões fibrosos aderidos às paredes uterinas. Esse cordão atinge seu limite de elasticidade no terceiro trimestre e, quase sempre, se rompe e retrai sem consequências, desaparecendo da visão ecográfica.
Confundir uma sinequia uterina inócua para o feto com uma banda amniótica provocará estresse desnecessário à gestante.
Fontes:
1. Streeter GL. Focal deficiencies in fetal tissues and their relation to intrauterine amputacion. Contrib Embryol 1930;22:1-44.
2. Burton DJ, Filly RA. Sonographic diagnosis of the Amniotic Band Syndrome. Am J Roentgenol 1991;156(3):555-8.
3. Costa EM et al. Síndrome das bandas de constricção congênita. Rev Bras Ortop 1996;31(4):341-6.